Força Estranha
Caetano Veloso / Composição: Roberto Carlos
Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
Notável brincadeira com as palavras e metonímicamente dá corpo ao tempo, fixando como brincadeira o passar do tempo, "ao redor" do "caminho", que interpreto como a Vida "daquele menino".
A presença da sonoridade simulando um chiado da água fixada nas palavras "riacho" e "acho".
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
Nos devaneios ou idas e vindas no tempo trilhamos estradas, vamos à lugares que derepente nunca estaremos.
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
Fantástica analogia a vida uterina, a beleza de contemplar uma gestante e linkar o verbo preparar a construçao metabólica de um novo ser ou uma nova vida.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
A questão da mimese presente na observância do cotidiano.,
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Mais uma vez a força da natureza: tempo, sol, estrada, gestação ensinando o leitor, ouvinte ou admirador a ver em seu dia-a-dia o tempo, a vida, o calor, a estrada a nova vida.
Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
O artista apesar de bem vivido, e por ter vivido bem, parece não envelhecer. "Somos aquilo que pensamos", a velhice acompanha àqueles que param nela. A mente não pára, o corpo segue o fluxo do destino sustentado por como encaro meus dias, 19, 29,39, 69,89 anos. O tempo deve ser encarado como um desafio constante, vencido por nós, crescendo a cada instante e acompanhando a mudança do tempo, da história e da tecnologia.
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
O astro rei lidera a força e jornada do ser. Ele que conduz a humanidade no vai e vem do tempo, a lua não tem lugar aqui, o sol determina todas as coisas e vai e vem da vida.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Talvez possa aqui, vinculara um pouco de impressionismo literário ao ver a figura do sol astro que acompanha todo o enredo da música/poesia. Elemento este que o sustenta, amanhã é um novo dia, acordar, higienizar, arruamar as coisas, trabalhar, estudar, defender "o pão nosso de cada dia" e não se deixar envelhecer, parar, morrer. Mas, caminhar, acreditar, lutar sol-a-sol.
Comentários